Ypióca tenta intimidar para calar movimentos sociais

Instituto Terramar - 01/07/2007
Ypióca Agroindustrial, após perder a certificação de Selo Orgânico, interpela judicialmente jornalistas e pesquisador que divulgaram informações contrárias aos seus interesses financeiros. Os movimentos sociais escreveram uma nota de apoio às pessoas intimidadas e ao povo Jenipapo-Kanindé que também está sendo prejudicado pela empresa. Veja a notícia e a nota em três idiomas.

Em janeiro de 2007, a empresa Ypióca, perdeu o Selo Orgânico concedido pelo Instituto Von Demeter, empresa reconhecida por conceder certificações como os "bio-selos".

Consta em comunicado do instituto que a causa para o cancelamento foram "motivos técnicos". Porém, existe a possibilidade de que o problema tenha sido a repercussão provocada por uma reportagem divulgada num site alemão, pelo jornalista Nobert Suchanek. A reportagem denuncia os abusos ambientais cometidos pela empresa comprometendo a Lagoa da Encantada e seu entorno, o jornalista teve acesso as informações após assistir palestra do professor Jeovah Meireles num seminário sobre racismo ambiental, realizado em 2005. A notícia apenas revelou o que já era de conhecimento do IBAMA, FUNAI e até do Ministério Público Federal que, inclusive, já havia acusado a empresa de provocar danos ambientais como a eutrofização (processo desencadeado por poluição e responsável pela proliferação de algas e mortandade de peixes) e a poluição bioquímica na Lagoa da encantada.

Em janeiro, após a perca da certificação pela empresa, o Jornalista Daniel Fonseca publicou informações relativas aos danos ambientais e ao desrespeito com que a empresa tratava o povo indígena Jenipapo-Kanindé, que vive no entorno da Encantada. Também divulgou a movimentação repressiva da Ypióca que ameaçava levar a publicação digital, feita por Nobert Suchanek, às cortes judiciais da Alemanha e da Europa para que a matéria jornalística fosse censurada e o jornalista, punido.

Não satisfeita, a Ypióca decidiu interpelar judicialmente o jornalista Daniel Fonseca e o professor Jeovah Meireles. Além de cometer um atentado à liberdade de expressão a empresa ainda cometeu o absurdo de negar a presença de indígenas na zona costeira cearense. Basta observar os fragmentos do documento público (Mandado de Notificação) assinado pelo advogado Dr. Jurandy Porto (OAB-CE, inscrição 1421), parte do processo no 2007.01.11000-7, movido pela empresa Ypióca Agroindustrial e pelo empresário Everardo Ferreira Telles contra o jornalista Daniel Fonseca, por conta do artigo "Ypióca perde uma para os Pitaguary".

"Inexiste qualquer registro histórico da presença de índios naquela área (Lagoa da Encantada) do litoral cearense, sendo oportuno assinalar que o nome "Jenipapo-Kanindé" foi criado por interessados no ressurgimento de índios no litoral cearense, em contraposição aos conceitos e regras dos arts. 231, da Constituição Federal, e do Estatuto do Índio (Lei n. 6001/73, arts 3o, I e II, 17 e 23)"

"Não há, em toda costa cearense, qualquer comunidade que tenha ou mantenha usos, costumes e tradições tribais"

O texto emitido pela empresa contrasta com a posição do Ministério Público Federal, responsável, juntamente com a Funai e o Iphan, pela publicação, em 2004, do livro "Ceará, Terra da Luz, Terra dos Índios", lançado em um seminário em que se fizeram presentes as etnias reconhecidas (Tapeba, Tremembé, Pitaguary e Jenipapo-Kanindé) e as que estão em processo de reconhecimento (Calabaça, Potiguaras).

Por compreender que a notificação contra o jornalista Daniel Fonseca é parte de um processo de intimidação contra aqueles/as que lutam em defesa da vida sobre o poder econômico, movimentos sociais e outras organizações se uniram para apoiar as pessoas intimidadas.
PIB:Nordeste

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